Tem hora que tudo o que a gente quer é um atalho, é uma estradinha fora do guia de viagem, aquelas que são mais pitorescas, mais arborizadas, mas que demoram bem mais pra chegar ao destino.
Tem hora que a gente quer sair do embate, quer buscar um silêncio, quer acreditar que existe uma alternativa ao caos e que ali, naquele lugar, por aquela via, a gente vai conseguir chegar lá, uma “lá” que não se sabe ao certo qual, mas que acredita-se ser um “lá” muito melhor do que “aqui”.
Tem hora que a gente só quer arrear a bandeira, hastear a branca, jogar o pano, pedir uma trégua, dar um tempo na briga de um contra o outro, a gente nem quer ter razão, a gente só quer ter paz.
Tem hora que tudo o que a gente precisa é de um muro pra subir e percorrer o caminho mais difícil em cima dele, até o fim, acreditando que dali não haverá quedas e contando que ali você não será alvejada. Mas será que, agora, é possível?
Sim, de fato a terceira via na vida é bastante tentadora. Ela parece oferecer caminhos coloridos, floridos, apaziguadores, onde não haverá mais conflitos, onde todos se entenderão, igual ao que muita gente acredita quando se fala sobre raça no Brasil: que todos somos um só, que não há diferença entre branco, negro, indígena, que “não há racismo no Brasil” e que essa discussão só leva ao “racismo reverso”… Essa conversa fiada que a gente bem sabe quem são as raças exterminadas e a que pode seguir existindo. Mas isso é tema pra depois.
Na minha opinião, não há espaço pra terceira via nas eleições de 2022, e eu me explico.
Não estamos lutando somente contra um sistema econômico e político, o que deveria conduzir, dentro de uma democracia, as diretrizes de um presidente e, logo, a do eleitor. Acontece que no atual momento, as eleições de 2022 podem definir se o Brasil ficará de lados como: democracia x ditadura; liberdade de imprensa, de pensamento e de expressão x censura; cultura, arte, sensibilidade x grosseria, insensibilidade e argumentação rala; valorização da mulher e autonomia pra gente x misoginia; saúde, ciência, cuidado com a vida x deboche, negligência e morte; acolhimento da diversidade x homofobia e racismo; religiosidades x ditadura religiosa com o nome de Deus para justificar a segregação… Eu poderia seguir com mais dicotomias, mas considero que essas já são suficientes para que possamos fazer nossa análise e, por conseguinte, opção de voto.
A luta é do que temos de melhor, uma pulsão de vida, um país onde se possa ter esperanças contra tudo o que pulsa a morte contra o que há de pior em cada ser humano, que é a mobilização pelo ódio, pela defesa de um ideal que tanto exclui quanto mata.
Essa luta é grande, essa luta é imensa e nela, a meu ver, neste momento, não cabe um “veja bem”, “vamos conversar de outra forma”, “não é bem assim”, “podemos olhar sob outra perspectiva”, “nem uma coisa, nem outra”… Enfim, uma terceira via. Estamos falando de nossas vidas e isso é urgente e a urgência não pode arriscar que a via que está permaneça. Mais quatro anos dessa tragédia que é Jair Bolsonaro na presidência, sinceramente, terminaria de nos matar. Já bastam as quase 700.000 mortes que a irresponsabilidade dele causou.
Ah! Mas agora a Luciana quer colocar as mortes pela Covid nas costas do Bolsonaro? Olha, não vejo outro responsável por e se ele não foi o culpado pelas 700.000, ele foi por boa parte, porque não usou máscara, não tomou vacina e, como líder de um país, seu exemplo ajudou, e muito, a disseminar essa doença.
Nunca votei no Lula, mas não vejo outra forma e nem outra via de, neste momento, tirar o Brasil desse buraco de desesperança no qual entramos.
Ah, mas o Lula é isso, é aquilo, o PT é isso, é aquilo. Sim, tenho várias críticas. Mas antes poder criticar, poder reclamar, não ter medo de falar mal, de bater boca, isto é, antes militar dentro de um terreno democrático a um que o Jair tenta impor, que é uma ditadura, quando critica as instituições e a constituição do Brasil, quando ele deveria honrá-las.
Sim, essa crônica está parecendo campanha política. Pois que seja, e farei muitas, porque eu tenho medo do Bolsonaro e do mal que ele causa. Esse ser (des) humano me adoece – não só a mim, eu sei, o que é pior. Saber que essa criatura me governa, me desespera. E cada vez que uma notícia triste como o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do Jornalista Dom Phillips acontece, me entristece ainda mais saber que o presidente do Brasil certamente estará vibrando com tais mortes, porque de índio ele tem horror, assim como de quem os defende. É um desalento.
Por isso, penso que a hora não é de vias apaziguadoras, mas de uma via que possa combater o que está aí, que possa reverter esse quadro e que, claro, estaremos de olhos bem abertos para cobrar e cobrar e cobrar. Lula está liderando nas pesquisas e isso é um dado muito contundente de que a proposta Jair Bolsonaro contra todo o mal que fora apregoado não funcionou.
Armar a população para que ela própria combata a violência não nos pareceu grande coisa. Recuperação econômica pela privatização de Noronha, de Jericoacoara e essa tentativa de transformar as naturezas no Brasil numa Cancun, Miami, explorando inclusive a Amazônia, desmatando o que vier pela frente em favor do capital para os ricos e, para os pobres, Uber e Ifood como consolo, sem garantias e nem segurança algumas, isso parece que não agradou muita gente. Defender apenas um único formato de família e não se importar com vidas é de uma falta de empatia tão grande que chega a chacoalhar corações bolsominions. Por fim, pra não me alongar muito, amar o Trump e o Bidem ao mesmo tempo também pareceu uma incoerência que deixa os Tico e o Teco de qualquer apaixonado completamente abalados e perdidos.
Ele podia ter ganho essa eleição com tranquilidade, mas não conseguiria, porque é contra sua natureza acolher as pessoas, amá-las, cuidar delas. Bolsonaro, como já falei pulsa a morte.
Então, nas eleições de 2022, meu voto é pela via mais curta, mais forte e mais fácil de mudar o que está aí. Meu voto é no Lula.
E, pra que ninguém se esqueça: #forabolsonaro
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Obrigada, Chris. Vamos nessa que a luta é grande.