Crianças e as missões que salvam o mundo

crianças: missões que salvam o mundo

Passei a tarde de ontem ocupada com missões que salvam o mundo.

Não, não adquiri nenhum novo cargo na ONU, nem fiz parte de nenhuma frente parlamentar que pudesse sumir com o Bolsonaro de nossas vidas para todo sempre, não virei nenhum voto. Não catei lixo na praia (coisa que faço com frequência), ainda não fiz a minha doação para o Criança Esperança, não plantei uma árvore e não publiquei outro livro.

Não deixei de comer carne e não deixei de alimentar supérfluos, como evitar de comprar mais um vestido do qual eu não precisava, mas com o qual eu me achei linda :). Não consegui resolver o problema do ódio que anda rondando, mas isso porque eu fui incapaz de lidar com o segundo item do parágrafo anterior. Tenho certeza de que quando “ele” sair, tudo vai desanuviar e melhorar.

Acho até que fui negligente com uma mulher que me pediu que eu lhe comprasse um biscoito, mas eu estava correndo e não o fiz. Fiquei com ela na cabeça.

Não consegui perdões e talvez ainda não os tenha conseguido dar de fato, mas tentei. Mas não foi suficiente e nem é disso que estou falando.

Ontem também, aliás, há dias, não acompanhei como anda a evolução da Covid no Brasil, bem como a da Varíola dos Macacos e não vi como está a guerra na Ucrânia. Confesso: estou fugindo, covardemente eu estou fugindo dessas notícias. Eu não sou daquelas que “prefiro não ver”, eu prefiro ver, eu prefiro saber, eu detesto que me escondam as coisas, mas estive mais introspectiva nos últimos dias tentando poupar o tanto de energia que sobrara. Aliás, tenho tido uma sensação bem estranha de que estou à parte, tentando entrar, mas à parte. Como se o mundo fosse uma bola magnética que repele. Por onde se morda, queima-se a língua.

Mas ontem, como eu ia dizendo, eu estive ocupada com missões que ajudam a salvar o mundo. Explico.

Ontem eu vi meia dúzia de crianças que se apresentavam para três adultas no gramado de um prédio. Com idades que iam de três a sete anos, elas vinham correndo e faziam suas acrobacias (minha nossa senhora dos pescoços, protegei-os das cambalhotas mal dadas). Antes, gritavam lá de trás: tia, tia, tia, olha, tia, minha vez, tia, olha!!! E a tia que estava envolta com outras crianças que queriam lhe mostrar mil coisas e se distraía, treinava o olhar pra enxergar Norte e Sul ao mesmo tempo.

Vi estrelinhas, cambalhotas, golpes de judô, vi bananeiras, rodopios e vi as carinhas mais lindas querendo se superar e me surpreender. Vi crianças se defenderem e se entenderem sem que precisassem da ajuda de mais ninguém. Um simulacro do que verão quando adultas, aprendendo a lidar com as diferenças entre elas, torço pra que consigam lidar da melhor forma com o que for diverso e adverso na vida.

Dia desses eu li que brincar com uma criança é importante pra ela porque é quando sente que estamos conectadas com o seu universo e, assim, ela se sente importante, pertencente. Deviam fazer uma pesquisa com os benefícios para o adulto dessa troca. São muitos, tenho certeza.

A gente que vive tentando dar conta de tudo, parar para um tempo que passa ao contrário, que rodopia numa eternidade de uma tarde, que se demora num sorvete de chocolate e que cria mil formas de continuar sorrindo. Isso é mil vezes melhor do que Rivotril. Sem dúvida de que se ficássemos mais atentas e atentos pra esse universo, seríamos mais calmos, mais felizes e melhores.

Pois ontem eu passei a tarde em missões que ajudam a salvar o mundo porque crianças ajudam a nos salvar do que o ser humano fez com o mundo. Elas são como pitadas do que é certo, do que tem cheiro bom, do que tem sabor de casa de avó.

A revolução virá das crianças. E eu, ora, estarei na linha de frente fazendo a minha parte, que no caso é só aplaudir e proteger das quedas mesmo.

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