Vai ter um tempo
Vai ter um tempo, meu amor, onde tudo isso será passado.
Um tempo-espaço onde possamos correr pela areia deixando o vento bater na cara enquanto, brincando, fugiremos das ondas do mar a querer molhar nossos pés.
Depois, mergulharemos nesse mar do futuro. Mar sem dor, sem medo, sem contágio. Mar calmo, verde, azul, maré baixa.
Estaremos aglomeradas e daremos gargalhadas. Somos quantas? Vinte, cinquenta, oitenta?
Vai ter um tempo em que todo o tempo perdido será recompensado. Brindaremos o fim e o recomeço. Sairemos de dias pandêmicos e distópicos.
Vai ter um tempo em que teremos muito mais amor (por favor!). As pessoas vão conversar sem máscaras e, principalmente, sem rosnarem umas pras outras. Aprenderemos a dialogar sem odiar. Lado A, Lado B, Lado B, Lado A, não fará diferença, nesse tempo, nesse novo tempo, a gente vai poder conversar
Vai ter um tempo onde o Rio de Janeiro voltará pro nosso mapa. Cheio de “xis” e “esses” ao final daxxx palavraxxx que é pra gente rir e achar charmoso ao mesmo tempo, enquanto caminhamos por Ipanema, tomamos um chopp no Leblon e curtimos um samba na Lapa.
Vai ter um tempo em que Jeri vai estar, de novo, bem ali.
Vai ter um tempo, lá no futuro, esse futuro que agora não conseguimos ver direito, tá todo borrado e anda nos amedrontando. Futuro no presente que nos tirou à fórceps o abraço. Futuro cruel esse que nos tiraram. Tiraram, nesse indefinido entre o vírus, a vida, o acaso… Não importa, não ficaremos pra sempre nesse tempo, meu bem.
Vai ter um tempo em que esse futuro será pretérito e nós vamos desenhar outro, de outro jeito, no mesmo canto, mas num lugar totalmente diferente. Seremos melhores e não nos preocuparemos com quase nada. Se engordamos, se os cabelos ficaram brancos, ou se deixamos de ir na dermato, se não deu pra depilar, ou se não deu pra comprar aquela roupa na Farm. Estaremos mais preocupadas se vai dar pra folgar na sexta-feira e pegar a estrada com vinhos, cervejas na bagagem, pessoas e as máscaras, essas já terão ficado lá atrás levando com elas tudo de ruim. Vamos fazer um ritual de queimar as máscaras? Uma fogueira? Nelsinho, o meu sobrinho, adorou a ideia.
Quem sabe um amor apareça aí, nesse tempo futuro que faremos nos surpreender? Um amor que apareça enquanto nos bronzeamos, ou sambamos adoidadas… Um amor que, como diz Chico, chegue do nada, não traga nada e nada pergunte. Só beije e saiba dançar colado. Já pensou?
Vai ter um tempo, meu bem, onde tudo será passado, onde isso tudo terá passado, onde simplesmente, seremos novamente e outras.
Vai passar!