Cheguei a ter medo. Juro.
Medo de não mais saber te amar, te querer. Como se nenhuma paixão mais valesse à pena.
Como se a vida tivesse se desencantado a ponto de não mais se saber apaixonar como se “soía”, como se sabia.
Pelo que se via, comia, sentia, bebia, cheirava…
Tive medo de te ver e não te achar tão linda, a mais linda do mundo. De não mais me deslumbrar quando minha vista pousasse em tua exuberância e nos teus recantos.
Medo de não reconhecer teu cheiro e teus sabores como meus.
Medo de não me sentir em casa e estranha ao mesmo tempo, que é como me sinto tão em casa quando estou em ti.
Pensei que não mais me arrepiaria com o mar estupidamente gelado, que não mais salivaria com o brownie que eu mais amo, tua torta de banana, que eu não saberia mais sambar em tuas praças – sambei loucamente – e nem mais pedalar em tua orla e tua Lagoa.
Cheia de dúvidas e com um coração que se esquentava a cada dia que chegava mais perto, eu embarquei. Em mim, o peso do vazio imenso dos últimos tempos, fora o resto que tu só saberias quando eu me pusesse em ti de novo pra te contar, pra você ouvir meus pensamentos sentindo meus batimentos.
Fui te encontrar e tu, que nem deve saber ao certo quem eu sou, se mostrou inteira pra mim. Com sol, com chuva, com frio, teus livros e livrarias, teus restaurantes que guardam memórias afetivas saborosíssimas. Tua gente que já é minha. Minha família, meus amigos, meus desconhecidos, minha gente também.
Tuas surpresas, teus silêncios e segredos, teu barulho de gente, de gente em meio à gente, de muita gente.
Do suco na esquina e do doido querendo arrumar confusão. Até disso eu percebi que estava com saudade.
Tua miséria, que me doeu porque essa miséria é um país todinho em dor. Tua miséria cotidiana acentuada, piorada pelo fim do mundo e dos tempos. Ele é o fim, eu sei e a gente está juntas nessa, meu amor. Vamos reverter isso.
Fiquei em ti e fui ficando e sem medo de ficar. A cada vez que ia ficando, o coração ficava em paz, se sentindo em casa, me agradecendo por eu não ter desistido de ti e nem da gente, por eu ter acordado desse longo sono ruim dos últimos dois anos.
Voltei e tô aqui roxa de saudade. O sorriso meio minguado, eu tentando me reencontrar na minha cidade que não atende pelo teu nome, mas que guarda tanto de mim, de minha gente, por ela, preciso me apaixonar também e você me ajudou até nisso. Contigo, reaprendi a me apaixonar.
Mas eu volto, meu amor. Pra sempre eu volto pra esse lugar que me reaviva, que é vida, pra onde a vida me leva, que me faz querer ficar e, pra sempre, voltar.
Obrigada, Rio de Janeiro, por me devolver a mim depois de tudo. Obrigada por tanto.
Rio, eu te amo!
crianças
Crianças e as missões que salvam o mundo
A revolução virá das crianças. E eu, ora, estarei na linha de frente fazendo a minha parte…