Reconhecer, aceitar e seguir feliz
Eu sou uma pessoa desorganizada e atrapalhada. Pronto falei!
Começo logo esta crônica me denunciando, que é pra tudo fazer sentido no final.
Dia desses eu ganhei de duas primas muito queridas dois lindos presentes de viagem, daqueles que se vê que foi escolhido a dedo pra você, o presente é a sua cara.
Foram comprados em Paris um porta passaporte e uma tag de mala, daquelas que você coloca o seu nome em caso de extravio. Veja bem, tudo a ver comigo, né? Paris + artigos para viagem.
Contudo, não devo viajar para o exterior neste ano – logo, não vou usar meu passaporte, logo, nem meu porta-passaporte – e não teria coragem de colocar aquela tag linda que ganhei na minha mala e entregá-la nos aeroporto do Brasil. Nem a pau, Juvenal!
Daí, então, que decidi fazer do porta passaporte a minha carteira de dinheiro e da tag de bagagem o meu porta níquel, assim ficaria grudadinha nos meus presentes todos os dias. Esperta, eu, né?
Só que não!
O resultado é que a minha nova carteira vive uma bagunça e tenho moedas espalhadas pelos quatro cantos, inclusive, num tem uns cinquenta centavos meus aí do lado nessa sua mesinha, não?
Constatei, mais uma vez, de que a gente nessa vida precisa se reconhecer, se aceitar e seguir feliz com o nosso jeito de ser, seja ele desmantelado, desajeitado, ou desorganizado. Acredite, isso é você, aceita que dói menos.
Eu poderia citar aqui inúmeras situações nas quais eu quis ser uma pessoa diferente da que eu sou, seja no aspecto emocional ou físico.
Já quis ser mais corajosa, menos apegada, mais amiga, mais engajada, menos preconceituosa (isso vale a pena tentar melhorar, sempre), menos medrosa. Já quis ter as pernas mais grossas, o cabelo liso, menos quadril, acabar com as sardas, com as bolinhas que tenho no braço.
Já quis ser fit como a Gabriela Pugliesi, mais saudável, como o Bela Gil, mais inteligente como a Marília Gabriela, irreverente como a Mônica Martelli, ser bem sucedida como as blogueiras que ganham tudo de graça.
Já quis ter menos idade, menos lesões pelo corpo, menos medo do futuro, menos saudosismo… Menina, eu já quis tanta coisa que eu não sou, que, quando dei por mim, eu simplesmente não queria era ser eu.
Aí eu parei, pensei bem, me avaliei com calma, olhei para mim com mais compaixão. Puxei uma cadeira pra mim mesma e me disse: Olha só, Luciana, você vai ter que se engolir! (com perdão do uso dessa expressão manjada, mas achei que calhava legal). E mais, Luciana, você vai aprender a se amar, a se querer com tudo de bom que a vida te deu, e olha que não foi pouca coisa.
No início é difícil, o pior inimigo de uma pessoa pode ser ela mesma, quando se é autocrítica demais, quando se leva muito a sério. A meu favor, eu tinha, e tenho, a capacidade de rir de mim mesma e de reconhecer quando estou exagerando e quando aquilo já fugiu ao racional faz tempo.
Aprendi a amar meu cabelo de juba, a curtir demais meu corpo cheio de curvas, a gostar das minhas pernas elegantes (adoooooro!), a dar risada das minhas trapalhadas (são tantas que depois eu falo delas), a admitir que eu adoro assistir novelas e a reconhecer que gosto também dessas séries americanas que todo mundo que é cult gosta (uhu!). Percebi que tenho uma resiliência considerável e isso conta super a meu favor.
E mais, o que é mais importante, reconhecer em si o que se tem para entregar de bom pro outro. Isso é o que mais contribui para você ser alguém que realmente valha pena.
É claro que o percurso é longo, é claro que a maturidade ajuda, que o tempo te faz mais complacente com tudo, inclusive com você, mas posso dizer que estou até indo bem nesta caminhada.
Vou vivendo no plano cada vez mais realista de que eu sou é desse jeito mesmo e eu tô gostando dele. Meus próximos passos vão incluindo um autoconhecimento, uma auto- aceitação, pois, quer saber?, eu sou mais eu :).
Ah! E também já desisti de dar outras funções as objetos as quais não são as suas de origem e já arrumei uma carteira decente pra mim, com porta medas atrelado e tudo pra eu não ter de ficar catando essas que talvez eu tenha deixado aí na sua casa. Foi mal!
E já que essa crônica fala de aceitação, resolvi colocar aqui uma das homenagens mais lindas que eu recebo em rodas de música. LUCIANA.