Que corpo é esse?
Que corpo é esse?
Que corpo é esse que resiste?
Corpo desmascarado pela condição de ter de avir-se consigo 24 horas por dia sem distração, sem depilação, sem unha feita, sem rotina, sem sina, sem máscaras.
É ele com ele. Corpo com espelho. Essa eterna utopia de a gente se encontrar sem se ver ao vivo, apenas pelo olhar do outro refletido. Maior? Menor? Qual o tamanho exato do que cabe nesse espelho do meu quarto?
A cada dia, todo santo dia, todas as horas do dia nesse encontro consigo confinado há dois meses.
Que corpo é esse que resiste?
Que corpo é esse que envelhece a olhos vistos minuto a minuto? Um corpo embate, um corpo cansado, amuado, amofinado pela falta de espaço. Corpo sem ar, sem cor, informe, estranho com a sua presença tão constante, tão distraída de outrora?
Que corpo é esse que dói sem consolo? Corpo com fome de abraço.
Que corpo é esse com tanto medo da morte?
Que corpo é esse que anda a mercê de alguém que vai escolher quem merece ou não viver?
Que corpo é esse sem outro corpo? Éramos um só quando fomos vários. Agora, estamos fragmentados em saudades e vontades. Em frangalhos.
Que corpo é esse que ainda vibra? Que ainda deseja, que ainda sonha, que pulsa, mesmo nessa vida avulsa? Corpo aviltado diante de um corpo invisível, microscópico tão maior que o meu corpo. Que o seu corpo.
Que corpo é esse bambu, que enverga, mas não quebra?
Que aprendeu a amoldar-se ao novo, a si nesta intensa convivência?
Que aprendeu a sorrir com os olhos, aprendeu a abraçar com uma ligação, uma mensagem, uma comida quentinha deixada na porta?
Que corpo é esse rejuvenescido pra aguentar o pique das crianças que antes se aviam com as babás?
Que corpo é esse holograma que se faz presença à distância?
Corpo que se descobriu cozinheiro, faxineiro, que se descobriu atriz de tik tok, cantora de chuveiro, corpo que se emociona com as lives da Teresa Cristina, que conheceu um monte de outros artistas, falas, lugares de fala de gente anônima que ganhou escuta no confinamento.
Corpo que chora, e volta, que cai e volta, que briga e volta, que se desespera e volta, se chateia, e volta, desanima e volta.
Que corpo é esse que, mesmo doído, exausto, permanece, sobrevive e se impõe?
É o seu corpo!
Aguenta firme!
Vai passar.
Respostas de 2
O corpo que quer correr pro mar, que quer se aglomerar, que quer se livrar. Aí aí aí… vai passar, vai chegar… beijooooooo
Tita, o meu corpo quer a mesma coisa. Vai passar sim!!!