Hoje, ao sair de casa a pé para ir ao cabeleireiro, que fica a cinco minutos de onde moro, fui assaltada. Levou meu celular, um rapaz que me ameaçou com uma facada.
Depois do susto e da perda do celular, parei pra refletir sobre o que a vida vai levando de nós a medida em que o tempo vai passando e vamos envelhecendo.
Tenho trinta e três anos e perder um iphone 6 me soa até como uma benção, já que, fazia tempo, eu queria me desconectar um pouco desse mundo meio fake no qual estamos vivendo, de tragédias compartilhadas e felicidades exageradas e obrigatórias.
Não é sobre a perda material a que se destina este post, o celular foi apenas o gatilho pra pensar sobre o que a vida tem me levado desde quando me entendo por gente.
Perdi avós, as duas, uma bem cedo e a outra também cedo, mas com tempo suficiente para uma convivência deliciosa. Perdi um primo e uma prima em terceiro grau (para mim, as perdas mais trágicas pela precocidade dos acidentes). Perdi tios, tias avós, que me custaram muito. Vi pessoas que amo perderem suas pessoas amadas e isso dói também.
Perdi amizades. Acho que não soube cultivá-las na infância e, portanto, perdi possíveis melhores amigas do colégio. Perdi o convívio com minha turma preferida da adolescência e isso não sei bem porquê, não foi culpa minha, mas de um acaso bobo da vida que fez com que ela se afastasse. Doeu e dói até hoje.
Perdi uma grande amiga do trabalho, uma pessoa super legal que, de uma hora pra outra, resolveu me demitir da sua vida. Isso eu não sei mesmo porquê, respeitei, mas foi ruim.
Com o passar dos anos fui perdendo a minha inocência. Perdi a capacidade de acreditar cegamente, de não desconfiar; na verdade, estou perdendo, pois juro que hoje, no assalto, por um segundo achei que fosse algum conhecido me dando um abraço (tolinha!).
Perdi coragem, uma certa autonomia pra fazer o que acreditava ser bom para a minha pessoa. Já não sou mais aquela que não parava quieta até encontrar uma situação confortável que me fizesse perceber que estava no lugar certo, com a(s) pessoa(s) certa(s) fazendo o que era certo para mim.
Perdi parte da minha impulsividade e hoje, avalio, me fazia bem. Quebrei a cara algumas vezes, mas sempre buscando o que eu acreditava ser o melhor. Era penoso, vez ou outra, mas valia a pena.
Perdi um pouco do romantismo, da crença em um amor pra valer, na reciprocidade dos sentimentos. Perdi o olhar crédulo para uma relação entre duas pessoas. Ultimamente, vejo e ouço tanta coisa que meu ponto de vista juvenil nem percebia e nem achava que existia.
Não sou uma pessoa pessimista, de forma alguma. Não tive somente perdas na vida, mas muitos ganhos, certamente. Escolher envolve perdas e nem sempre fazemos as melhores, aí a perda é dupla.
Muito pior, mas pior mesmo, do que perder um celular, um carro, um computador, etc, é perder-se de si mesmo. É parar num tempo sem que este tempo seja o seu. É olhar pra si e não se enxergar direito, é perder certezas.
Ok! Hoje foi o celular e os policiais foram até atrás do rapaz com armas, moto e colete, disseram que tentariam me devolver o aparelho. Obrigada, queridos, pela gentileza, sei que isso faz parte de seus trabalhos, mas eu os agradeço pela coragem. Contudo, fiquem tranquilos, o que eu preciso procurar vocês não vão poder me ajudar.
Irei em busca da lista inteira que relatei aqui e que a vida me levou por aí. Vou com unhas e dentes,sem colete protetor, pois preciso é me jogar. Vou com armas na mão e um coração renovado de esperança, porque isto, a vida não me levará, nunca.
crianças
Crianças e as missões que salvam o mundo
A revolução virá das crianças. E eu, ora, estarei na linha de frente fazendo a minha parte…
Respostas de 2
Descobri seu blog por acaso. Estava procurando algo sobre gente de sentimentos ruins…rsrs
Li e achei incrível o texto “O que a vida tem me levado”. Me identifico muito com o que vc escreveu, e engraçado, de todas as coisas, tem uma que sempre digo que lamento ter perdido: a inocência…essa sim, torna nossa vida mais leve.
Parabéns!
Oi, Marta!
Muito obrigada! Muito bom receber comentários assim. Sinal de que a vida também traz coisas boas, né?
Difícil mesmo trocar a inocência pela maturidade e pela desconfiança, preferia achar pra sempre que o ser humano é bom. Mas vamos pra frente, pois essa vida ainda tem muito a nos apresentar.
Boa sorte!