A morte dos imortais

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Sempre que alguém morre ficamos tristes, lamentamos a partida, a falta, a dor, mas nos esquecemos do que ganhamos por todo o tempo que passamos juntos: a convivência. Nos esquecemos também de que o nosso dia chegará e de que alguém há de sentir a nossa falta. Tomara!
Mas o post de hoje é destinado não à morte, mas a capacidade de algumas raras pessoas em ser imortais, pois mantém-se vivas no imaginário coletivo através de suas obras, sejam elas de que natureza for. Tais figuras conseguiram eternizar-se para uma legião de outros comuns.
A maioria destas pessoas a gente nem conheceu pessoalmente, não convivemos com elas, não sabemos dos seus defeitos, mas apenas de suas qualidades, as que eram mostradas com o maior entusiasmo e paixão para o grande público.
Quando essas pessoas partem, vejo muitas mensagens de lamento, como: “Que pena!” ou “Foi uma grande perda!” ou ainda, “O mundo ficou mais pobre!”. Contudo, fico me perguntando, será mesmo?
Será que a partida física de Tom Jobim e Vinícios de Moraes deixou nosso acervo musical mais pobre? Será que as mortes de João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Manoel de Barros nos levaram parte, ou bastante, da poesia de nossas vidas? Será que a morte da Madre Teresa levou consigo todos os seus bons exemplos de amor ao próximo? Será que a morte do Wando levou o melhor do brega?
Nesta semana morreu Bolaños, o criador dos meus ídolos às avessas da infância, o Chaves e o Chapolin (por isso a inspiração para este post) e houve uma comoção geral, muitas postagens de tristeza… Mas, sinceramente, acho que não cabe o luto.
É claro que a morte nos causa tristeza e quando a morte é prematura, causa uma revolta, sim, pois sabemos o quanto estas pessoas que tem o dom de se multiplicar através da música, teatro, ações generosas, dentre outras, fazem falta. Mas quando a vida desta pessoa foi plenamente vivida, o sentimento que me ocorre por estes tantos que se foram é o de GRATIDÃO.
Isso mesmo, gratidão. São pessoas que nunca me viram, não sabem onde eu moro, o que eu faço, com quem me relaciono, mas que, com suas obras, fizeram uma diferença positiva enorme em várias fases da minha vida. Seja numa música emprestada para embalar um romance, sejam nas lembranças da minha infância, quando eu e meu irmão chegávamos da escola às pressas para assistir as trapalhadas do Bolaños enquanto personagem, seja agora, já mais adulta, dividindo poesias do Olavo Bilac com meu avô e muitas outras que poderia relatar aqui até amanhã.
Não, realmente não consigo encerrar com tristeza a participação destes grandes ícones na terra. Na realidade eu nem consigo encerrar suas participações, pois eles se tornaram imortais. Mesmo antes de morrer, já eram imortais, pois a obra tem este poder, imortalizar seus criadores.
Em troca desta generosidade tremenda destes benfeitores que se vão, acredito que nossa missão, seus meros fãs que ficam, é a de nunca deixar que suas obras sejam esquecidas, que seus trabalhos ou suas lutas tenham sido em vão. Nosso dever é propagar para as gerações à frente o que para nós fez tanto sentido, mas que, com esta forma de consumo cada vez mais descartável e em busca de novidade diariamente, faz com que deixemos para traz tesouros tão raros.
Fica aqui, então, o meu MUITO OBRIGADO ao Bolaños e o meu nunca adeus ao Chaves e ao Chapolin Colorado e a todos os outros que de diversas formas representam o que eu sou.

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Respostas de 8

  1. Issaê, Lu! Imortais. Grandes obras perduram e continuam a emocionar e a ajudar pessoas pela eternidade. Podemos ficar tristes pela passagem deles, mas porque ficarmos arrasados? A obra deles está sempre por perto para podermos revê-los, continuar aprendendo com eles e continuar crescendo com a maneira com a qual suas obras nos tocam. Hoje, por exemplo, faleceu o invento do primeiro video game do mundo. Eu não teria meu hobby favorito hoje se não fosse por ele. Um hobby que me desestressa, me mantém saudável, que me mostrou histórias empolgantes e emocionantes e que me ajudaram a crescer. Meu eterno agradecimento a Ralph Baer por me ajudar a ser quem sou hoje.

  2. Haja inspiração!Parece que as palavras brotam de vc.
    Não me canso de ler seus textos. Esse está maravilhoso.
    Se todos aproveitassem esses exemplos para se tornarem melhores o mundo seria mais leve e romântico.

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