Invasão virtual e a alma invadida. Título instigante e misterioso esse né? Mas vou tentar me explicar. Vem comigo!
Invasão – Dia desses conversava com uma amiga sobre como conseguir mais curtidores no instaram. Pois é, né? Parece fútil, mas quem escolheu trabalhar com a internet só pensa nisso. As curtidas são nossos clientes e é deles que a gente precisa pra que um monte de outras coisas desenrolem. Tempos difíceis esses “líquidos”.
É bem verdade que meus seguidores vinham, e ainda vêm (ufa!), aumentando a cada semana, de pouquinho em pouquinho, mas eu vibro com cada um que passou a querer conhecer meu conteúdo, a opinar, a compartilhar. É como se eu estivesse ganhando mais um amigo, desses que mal se vê, mas que sei que gosta de mim.
Mas, mesmo assim, precisava de mais gente e minha amiga me indicou uma ferramenta que funciona assim: você coloca lá o perfil de pessoas que você gostaria que te seguisse, essa ferramenta começa a seguir desesperadamente esse perfil de pessoas e a curtir as últimas três publicações dessas criaturas e estas, por sua vez e em gratidão, passam a te curtir. No caso, passaram a me curtir.
Não existe compra de curtidas, em tese, não tem nada fora da lei, mas fato é que eu me senti meio desconfortável com a história a que eu chamei de “invasão” que eu mesma busquei. Explico: De repente começaram a aparecer dezenas de pessoas na minha timeline, muita gente mesmo e eu senti como se um bando de gente que eu não conheço tivesse entrado na minha casa. Devem ser pessoas ótimas, mas é que vieram tudo de uma vez e me soou como se eu não fosse merecedora daquilo, pois amigo a gente não implora pra ter, mas se conquista.
Vi festas de famílias as quais não conheço, primeira comunhão de criança que não sei de quem são filhos, apareceu uma mulher pelada no meu insta e, por um instante, pensei estar fazendo parte de um grupo de pornografia. Vi casamentos e não podia nem curtir, pois não sabia se estava de acordo ou levantava a mão dizendo “Senhor juiz, pare agora!”. Desesperei.
Fiquei tão incomodada com essa “invasão” que recorri à minha terapeuta pra tentar entender o por quê. Eureka!
O que aconteceu virtualmente foi apenas uma metáfora do que acontece, ou já aconteceu ou pode acontecer conosco na vidinha real.
Eu me senti como se estivesse mendigando amigos, relacionamentos, pedindo por favor para fazer parte da turma que sempre fez bullying comigo, cutucando a pessoa no meio da festa pra falar com ela, sendo que a criatura já tinha me visto, mas fingiu que não. Foi assim que eu me senti, uma intrusa com um monte de amigos de aluguel, que só me curtiram porque eu os curti antes, ou seja, eu “paguei”.
Eu sei que é um exagero, sei que essas pessoas nem me conheciam e essa foi apenas uma forma rápida de dizer: Oi, tudo bem? Eu tô aqui e sou legal, ó.
Pois é, só que, por mais que eu queira ter muita gente por perto, eu sou dessas que gosta do processo da conquista, daquela conversa antes para saber se realmente eu tenho algo a acrescentar na vida da pessoa e ela na minha. No caso da internet, gosto daqueles que vem a mim porque descobriram meu blog e, de algum modo, foram tocados por ele. Sou tímida, sou insegura, fazer o que?
Somos nas redes um reflexo do que somos por dentro, por mais que por trás daquela foto de pôr-do-sol em Noronha tenha uma saudade infinita de um amor que acabou; ainda que aquele beijo cinematográfico que aparece pra todo mundo seja no último cara que você deseja, no caso, o seu marido. Ainda que àquela comida divina do restaurante nas Maldivas seja precedido de uma briga voraz de casal; ainda assim tem uma hora que a máscara cai e a gente acaba se entregando.
Se entrega num comentário cheio de mágoa, se entrega numa enxurrada de fotos felizes que, enquanto estávamos realmente felizes, a gente mal postava fotos da nossa felicidade. Se entrega numa neurose em emagrecer, numa curtida no post do Bolsonaro, num comentários preconceituoso num post gay. Ninguém se esconde por muito tempo.
Então eu fiquei com medo de a pessoas me curtir e depois achar maior paia o que eu posto. Fiquei com vergonha de não ser nada daquilo que a criatura pensava quando ela resolveu “me curtir”, já que ela só o fez por gratidão. Tenho horror de quem faz as coisas por mim só por piedade, gratidão, ou seja, sentimentos de fragilidade. Gosto que façam porque tem prazer em me fazer um jantar, uma massagem nos pés, me dar um presente, curtir meus posts, comentar no blog, compartilhar no face. Adoro!
Só que relacionamento, seja de que natureza for, se faz em dose homeopática.
Envolve troca de energia, entrega confiança e disposição pra essa nova relação. Tem de ir mais lento, tateando o terreno que é pra ver se onde se pisa é sólido. Depois você convida pra ir na sua casa, conhecer a família…
Moral dessa historinha “croniquinha” é que eu quero ter um milhão de amigos, de seguidores, de curtidas, mas quero conquistar a cada um individualmente. Quero que se cheguem a mim por que gostaram do que eu falo, do que eu escrevo, ou mesmo odiaram, mas dispuseram um pouco do seu tempo para interagir comigo.
Assim como no mundo off-line, quero gente que me quer por perto e me quer bem. Gente pra quem faço falta, que me recebe com sorriso largo, que se cabe no meu abraço. Isso demora, mas tenho tempo.
Seja muito bem-vinda (o)! Sou Luciana e vou adorar te conhecer.
Se puder, deixa aqui nos comentários um oi pra eu saber quem é você.
Até a volta!
Ah! E se quiser ler outras crônicas que não estão no blog, você pode comprar o livro do Paris Só de Ida aqui.
Respostas de 2
Bom dia Luciana. Nesse texto que escreveu pode externar, acredito, o pensamento de muitas pessoas que navegam nesse mundo virtual. Um espaço cheio de nadas e de tudo. Onde a humanidade vai chegar a gente supõe, um mundo frio… Espero que eu esteja errada. Gostei do seu texto, bom refletir.
Oi Ione
Obrigada!
Vamos torcer mesmo para que o mundo dê uma reviravolta e se esquente novamente, né?
Bjs