Vai ao médico, faz mil exames: joelho ferrado, coluna meio torta, testes de fertilidade e já são 33 anos e um monte de decisões pra tomar. Vai à dermatologista: manchinhas, ruguinhas, linha de expressão, por que não faz um botox de leve?, cuidado com o sol, protetor no rosto das seis da manhã às dez da noite, pois até a luz da lâmpada queima a pele.
Trabalho, agora você já é pra o que deu. Tem uma profissão, tem de bater meta, vender, vender, vender. E daí se você gosta de arte? Problema é seu, cale-se com a boca de feijão e vá vender.
Não! Não estou aqui dizendo que a vida acaba depois dos trinta, tem muita gente que diz é que começa (acho que é fingimento), nem dizendo que vamos cortar os pulsos, pois não tem mais jeito e agora “hay que endurecer sin perder la ternura”.
Vim hoje aqui só pra dizer que eu queria mesmo era ter 26 anos.
Idade boa, essa! A maternidade é algo que pode jogar láaaaaaa pros trinta, a pessoa certa pra casar pode aparecer láaaaa pelos 28, ainda dá tempo de acabar esse namoro chatinho e fazer uma pós no exterior. Nossos pais ficarim mega orgulhosos e até bancam o curso, se for o caso.
Aos 26 você ainda pode sair por aí e embriagar-se, pagar mico, fazer besteiras, agir impulsivamente. Pode ser meio cheinha ou bem magrela, a beleza está praticamente garantida aos 26.
Aos 26 ainda dá pra ter tempo de ver as amigas, as melhores, uma vez por semana, perder horas a fio no telefone batendo papo e ainda dá pra se aventurar com alguns “peguetes” por aí. Ai que termo horrível! Mas e daí, você só tem 26 aninhos, lembra?
Aos 26 você já é uma pessoa absolutamente livre quando lhe convém e pode ser totalmente dependente se assim for mais confortável. Quer viajar com o namorado? Já pode. Quer largar o trabalho e estudar fora? Pode, isso é um investimento aos 26. Por outro lado, quer ficar nas casa do papai e da mamãe comendo aquele almocinho delícia todos os dias sem ter de lavar a louça? Tá tudo certo, você só tem 26. Quer dormir até meio dia no final de semana e deixar a cama pra mamãe arrumar? Claro que pode, afinal, o filhinho estudou/trabalhou tanto na semana que merece, e ainda tem café da manhã do jeitinho que ele gosta.
Agora pense comigo, você agora tem 30 ou mais, ok? Diga pros seus pais, com os quais você não mora mais ou, pelo menos, não deveria, que vai largar o emprego e passar um ano sabático na Índia. Já consigo até ouvir o som da voz: – Pirou? Isso é coisa de vagabundo. Filhos? Ainda não os têm? Como assim? Não vai querer ser mãe?
O passar dos anos nos atropela sem nem perguntar se estamos preparados para as novas fazes e as várias decisões que elas envolvem. É a vida impondo a sua condição sobre nós que tivemos a sorte de ter vindo a ela em meio a milhões de outras possibilidades. Ela cobra seu preço com uma moeda chamada Tempo, que traz, mas leva muitas coisas nossas também.
Nos últimos dias, em meio a assalto, médicos, trabalho e afins, só me vem uma coisa na cabeça: eu queria mesmo era ter 26 anos e deixar minhas preocupações e desilusões com a realidade láaaaaaa pros 30 anos. Ops! Eles chegaram. Vixe! Já estão até passando. Socorro! Segura os danados, se não os quarenta chegam e eu não saí nem dos 20.
crianças
Crianças e as missões que salvam o mundo
A revolução virá das crianças. E eu, ora, estarei na linha de frente fazendo a minha parte…
Uma resposta
Tempo, tempo, tempo, tempo……