Como alguns de vocês já sabem, em agosto do ano passado eu me mudei de Fortaleza.
No dia 22 eu peguei minhas malas e deixei pra trás, com muita dor, meu casamento, minha casa, minha família e o meu trabalho.
É um troço bem difícil. Em pleno 2017 já, e eu ainda estou me adaptando a esse tsunami que eu imprimi à minha vida.
Cortar, o que quer que seja, pela raiz é tarefa das mais árduas para um ser humano quando tudo o que se busca é segurança e pertencimento. Acredito que tenhamos vindo à vida simplesmente para amar e criar laços, logo, romper com eles é árduo.
Contudo, é quando conseguimos rebentar com o que já é de costume, com o que se está habituado, quando nos permitimos sentir medo do porvir, deixar dar aquele frio na barriga e o nó no estômago, que nos sentimos mais vivos.
Não acho também que precisamos romper com tudo, a toda hora, pois a coisa mais linda e gostosa que existe é o aconchego do que é nosso, do que nos é familiar. Coisa melhor do que ter um porto seguro, seja onde se mora, ou no abraço de alguém, num amigo que é pau pra toda obra, não há. Isso é de um afago na alma que não tem tamanho e não tem preço.
Porém, acomodar-se uma vida inteira no mesmo piloto automático me parece bem preocupante. Sinto como se tivesse desperdiçando esse privilégio que foi nascer. Acho uma sorte do caramba ter nascido. Acho um acaso bem improvável, então, já que eu – sabe-se lá por quê – calhei de nascer, deixa eu me jogar nessa maravilha doída que é viver.
Comecei a escrever essa crônica porque já faz mais de um mês que eu vim passar as férias em Fortaleza, na casa dos meus pais. Atentem para o último item da frase: CASA DOS MEUS PAIS.
Meu povo, tem coisa melhor nessa vida do que a casa dos pais não. É um sorriso toda vez que você entra em casa que vem daquelas, únicas, pessoas que te amam incondicionalmente. Além disso, é cama pronta, roupa limpa, cheirosa e almocinho com tudo o que se gosta de comer.
Aqui ainda tem um agravante: a Val, que trabalha na casa de mamãe. Val, todo santo dia, faz uma tapioca incrível para mim com suco de limão. Ela também faz ovo cozido no almoço – acreditem, é das coisas que mais amo na vida – além de tudo o mais que gosto. Obrigada, Val.
Pois bem, resumindo, tô criando raízes novamente aqui e isso já está me preocupando. Me preocupa porque não nos afeiçoamos apenas ao que é bom, mas ao que é mais cômodo também. Nisso perdemos oportunidades, viagens a novos lugres, novas amizades, novas frustrações que nos levam ao crescimento, perdemos tempo em gastar o nosso precioso tempo com mais do mesmo.
Daí então que eu, com meu sinal de alerta ligado, já prevendo que vai ser difícil me desligar de novo do ventre materno/paterno, já estou me obrigando – mas estou achando ótimo – a me mexer.
Estou em fase de muda, tipo caranguejo. Tô trocando de pele e lá vou eu experimentar num curso bacana o que a criatura lá tem de novidade para dizer. Vou pra São Paulo primeiro e já começo a pensar na data de retorno pro Rio.
Engraçado esse troço de criar raízes, porque eu AMO e sempre AMEI e desconfio que vá sempre AMAR o Rio, mas voltar pra lá significa me colocar à prova novamente, fuçar o desconhecido, sem colinho de pai e mãe por perto. Significa batalhar por novos amigos, por um novo trabalho, por uma outra rotina e, claro, tudo isso ainda tem que me deixar feliz.
Como é difícil encontrar o verdadeiro sentido de tudo o que fazemos. Encontrar um rumo não significa em nada que seu caminho daqui pra frente será fácil. A luta continua, companheiros!
A única coisa, das poucas que eu sei de verdade, é que vale muito a pena. Vale a pena usar a foice, a peixeira, ou serra elétrica pra cortar nossas raízes e voar. Diferente do que acontece na natureza, quando somos “cortados” é que ganhamos ainda mais vida.
Então, lá vou eu arrancar meus pés do chão e alçar voo.
Vamos nessa?
P.S.: Pra voar, não precisa necessariamente ser de avião, pode ser com bem menos, dentro de casa mesmo, tentando de outra forma.
Publicado em: http://www.somosvos.com.br/coracao-cearoca-criando-cortando-raizes/
25/01/2017
crianças
Crianças e as missões que salvam o mundo
A revolução virá das crianças. E eu, ora, estarei na linha de frente fazendo a minha parte…