Um convite: – fica

Um convite: - fica

A campainha toca, é ela. Ele abre a porta com perfume pontual e, apenas com um sorriso, a convida pra entrar. Olhares, um esbarro na mão, cada gesto um sintoma da permanência. Pedem e, enquanto o jantar não chega, ele abre um vinho. A taça cheia até a metade marcava o início do caminho daquela noite inteira. Conversam, riem timidamente, até que as pernas se encostam e de lá não se saem, perderam-se. Sala imensa se fez vácuo entre os dois. Rostos bem próximos, vozes já quase em sussurro. A campainha. Recobram-se como se pegos em flagrante. Mais vinho, jantar e, antes da sobremesa, o beijo. Um longo beijo como se matasse uma vontade de quilômetros. Sofá, ele aumenta o jazz que supõe que ela curta. Ela já não supõe mais quase nada. Inebriada. Abraçam-se, beijam-se, enroscam a mão na nuca. Mãos por entre os cachos, mão pelos fios meio grisalhos e curtos, pescoço e um cheiro de colônia que espanta pra longe qualquer pensamento ruim. Pernas, beijo, mãos e a intimidade de dois que outrora coravam frente a frente. Calça, zíper, vestido, soutien, camisa… os sapatos já se pisavam desde a mesa do jantar. Eles. Corpos, suor, sussurros, percursos, encaixe, um só, os dois, o jazz parece sumir ao fundo, a lua parece querer entrar, o vinho por beber, o fogo, eles ardem, mãos, cabelos, pelos, peitos, costas, nuca ainda com cheiro da colônia, daquela, de pendurar pensamentos ruins bem longe. Cansaço, jogados, saciados, pernas ainda entre elas. Se olham nos olhos, nela uma dúvida, nele o convite: – fica.

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