Viagem por dentro
Eu adoraria escrever sobre viagem. Paris Só de Ida bem que podia ser um blog que se dedicasse a falar da cidade luz e afins e eu viveria pelos ares contando pra vocês o que tem de bom nesse mundo.
Você nem precisa se envolver nem nada. Pega-se um voo, se hospedada num hotel legal, perto de tudo e melhor custo benefício, passeia-se pelos pontos turísticos e dá-se um jeito de pegar uma dica com um nativo para poder dizer que aquele furo de reportagem é seu e que lá é o melhor lugar de Londres, por exemplo, e nem deve ser, mas você diz que é pra ter o seu diferencial. Marketing, minha gente, isso é o tal do marketing. Daí você vai num restaurante de um novo cozinheiro tailandês que tá começando a bombar, toma um vinho maravilhoso como nenhum outro, fala dos hábitos locais e da “atmosfera” do lugar, tipo: é divertido, energia boa, é lindo… Ao final junta tudo num texto, diz que foi incrível e parte pra próxima.
Sim, seria bem mais simples. Relatos sem sentimentos e nem emoções, um contrato comercial e ponto. Esses itens da alma ficam na mala, ou vêm na mente enquanto você, entre uma postagem e outra, dá um gole naquele vinho e se lembra que já estivera ali, ou na sala do ap. do cara mesmo, tomando um tinto infinitamente pior que aquele, mas com um sabor… ah! que sabor. Mas isso não precisa ser dito, visitado, postado.
Acontece que eu sou absolutamente incapaz de fazer uma narração desses. Quando eu viajo, eu me desorganizo, e quando isso acontece, eu fico em estado latente de sentimentos, as emoções afloram e eu observo o mundo sob uma ótica que talvez não interesse a ninguém.
Acabei de chegar da Holanda numa viagem duplamente linda, pois, além de ser um país surpreendente e acolhedor, permeado por tulipas nas estradas e parques, eu ainda fiz essa trip com o papai e a mamãe e isso já supera qualquer museu do Louvre, né, gente?
Pra começar, a primeira sensação que me veio à cabeça foi o meu amor à uma língua universal que eu, com o incentivo de meus pais, aprendi na adolescência. Podia ser francês, italiano, mandarim, não importa, tinha que ser uma e calhou de ser o inglês. Aff, que conforto é você olhar pra um alienígena que fala dutch, vocês falaram numa língua não materna pra nenhum dos dois, logo, você também é um E.T. e ambos conseguirem se comunicar e até rir de piadinhas. Isso me soa como milagre, me encanto e me sinto abraçada.
Olha isso, a pessoa viaja e o impacto dela começa pela língua estrangeira. Tá fadada ao fracasso, coitada, mas sigamos, tenha só mais um pouquinho de paciência.
Longe de casa você esbarra com tanta gente e, naquela pressa de conhecer todas as atrações, às vezes nem se dá conta da riqueza que é isso. Se parar pra perguntar, vai ver que a garçonete que lhe atendeu eu Haia é uma refugiada do Suriname que morou na Rússia e que é fã da Giovanna Antonelli porque assistiu a novela O Clone. Outra vez, em Budapeste, conheci uma Romena louca pela Escrava Isaura que estava passando na sua terra. Isso em 2013, gente. Muito bom, né?
Conversa com gente de Java, brinca com uma criança da China, é solicitada para fazer uma foto de um grupo de italianos, entra no trem com americanos e, de repente, se vê em meio ao que se chama de globalização e pensa: cara, a gente se dá tão bem enquanto estamos felizes, pra que tanta guerra, tanta intolerância religiosa, pra que tanto ódio se a gente pode se amar?
A essa altura do campeonato, meus amores, eu não sei mais dizer onde se hospedar e, muito menos, o que comer perto do hotel, a alma divaga demais (Ps.: enquanto a memória tá fresca, vamos aproveitar: em Amsterdam ficamos no hotel Espresso e tem um supermercado bom do lado e farmácia também. Adoramos. E ele ainda fica grudadinho nos museus… pra essa apaixonada pelo antigo, isso é ouro. Herança do father, fazer o que?).
Pegamos o carro e, pela estrada afora, em vez de paisagens, viajo em pensamentos e músicas. Fomos cantando de Noel à Pepino de Capri por toda a Holanda e, entre uma respirada e outra, a gente apontava, sem perder o tom, a paisagem que íamos vendo. O dia mais inesquecível pra mim, foi quando tomamos um vinhozinho a mais e voltamos pro hotel agarrados, nós três, olhando as estrelas, cantando e rindo sem parar da gente mesma, Pense numa lombra doida e boa!
Oi? Você quer saber o nome do restaurante? Hummm… Pera… Lembrei! Sea Food, minhas primas me indicaram e vale demais a visita, esse é de Amsterdam.
A outra noite que eu mais amei foi a que fomos parar numa cidade que não tava na rota, Hamstad. Não tinha hotel onde queríamos e precisávamos seguir viagem. Ficamos num hotel sensacional de lindo e gostoso. Chegamos exaustos, tomamos um banho, pegamos os queijos e a saladinha que havíamos comprado no supermercado da cidade pedimos um vinho, mezinha na varanda e nós três numa conversa e numa noite no meio do mundo e o mundo ali.
Enquanto visito museus, penso nas mãos de Van Gogh e Rambrant que estiveram em cima daquelas telas… O que pensaram, o que passaram, por quem sofreram? Penso no sofrimento da Anne Frank ao visitar sua casa, seu esconderijo… Quantos sonhos que não puderam ser realizados, quanto medo, meu Deus!
Entro no bonde e olho para as pessoas, como será que foi aquele dia de trabalho? Aquela cara de cansaço vai ter amor em casa? Legal o jeito que ela se veste, adorei esse corte de cabelo, que gente ousada, essa daqui. Penso nos trabalhos que quero fazer e no que ainda tenho pra viver e tenho a certeza de que viver vale muito à pena, é uma delícia, mesmo com todas as nossas questões.
Pausa para o almoço que estava delicioso, até repetimos o restaurante, mas não vou saber dizer o nome dele… Sorry! Visitamos Delf e Leiden também, são lindas! Só que pegamos todos os dias de sol e isso contribui demais com a paisagem. Não sei se você for lá um dia e estiver chovendo, vai ser tão intenso como foi pra nós.
Abraço meus pais e agraço à vida por tê-los, eles são minha maior atração na viagem, nossas memórias que criamos e ainda vamos criar muitas outras, eles são minha eterna volta pra casa.
Embarco de volta já pensando na próxima, doida pra conhecer o lugar, me hospedar, comer, me divertir… E sonhar e me encantar e divagar e conviver e…
Have a nice trip!
P.s.: Sugiro, de verdade, que você conheça Keukenhof, um parque de tulipas de todas as cores.
Amei, Lu! Que relato lindo, dá para “sentir” que a vigem foi mesmo maravilhosa! Para mim, viajar é exatamente isso que vc descreveu, uma mistura de sensações, sentimentos, observações, imaginações, muito mais do que um conjunto de pontos turísticos! Beijos!
Obrigada, Mi! Viajar é isso, né, se remexer inteira. 🙂