Sei, você deve estar pensando que eu não tenho moral nenhuma pra falar sobre isso, porque eu não sou gorda e tenho um corpo que muitas mulheres dariam tudo pra ter. Também não estou aqui falando que eu sou mega gostosa, porque nem sou – mas tem quem ache :). Enfim, só tô querendo dizer com esse início é que não se trata de hipocrisia e nem demagogia.
Trata-se de um problema seríssimo que acomete principalmente as mulheres, já que, com os homens, o máximo que a gente faz é “mangar” da barriguinha, achando graça, no que ele responde com a mesma graça e segue bebendo cerveja e comendo ao seu bel prazer.
Pra mulher o bicho pega. As pessoas chegam a ter ódio de mulheres gordas, chegam a taxar comportamentos pelo fato de “ela ser gorda”, as pessoas olham para as gordas como se elas devessem algo pra sociedade e sempre estivessem de estar pagando pelos quilos a mais. Já viu a cara das pessoas quando “a gorda” vai pra mesa de doces num aniversário? Observem.
E porque que eu, que não sou gorda, tô falando disso?
Porque hoje eu criei coragem pra desabafar, hoje eu não vou falar das dores generalizadas, apesar de essa dor ser geral, mas vim falar de mim e, quem sabe, falar de você também.
Hoje eu vim falar que eu MORRO DE MEDO DE COMER. E o estopim pra eu escrever sobre isso é o simples fato de eu estar comendo um croissant imenso e estar simplesmente morrendo de medo dele. (Ai meu Deus, as mulheres da mesa ao lado só falam de dieta e eu atracada até o talo com o croissant com queijo).
Voltando. Não vou fugir, juro. Eu morro de medo de comer qualquer coisa, até o que tá na dieta, porque a minha relação com a comida é super conflituosa. Ainda bem que eu nunca tive anorexia, muito menos bulimia, porque eu tenho um excelente autoconhecimento, fruto de anos de terapia. E é fato que eu ter medo de comer não significa que eu não coma, eu como. Mas eu sofro pra comer.
Comer, ao mesmo tempo que me é um dos maiores prazeres da minha vida – eu amo sair pra comer, sair pra lanchar, sair pra tomar vinho, cerveja… Pode me me chamar que eu vou – mas comer é uma grande tormenta. Porque eu como com CULPA. E não há nada mais indigesto do que a culpa. Nada. Culpa é o pior tempero, a pior sobremesa, a guarnição estragada que transforma toda sabor em azedo.
E olhe que eu malho todo dia, mas a culpa é insana.Eu me sinto insegura de biquini, eu me sinto meio mal nua (Já tô quase acabando o croissant que tá puro à manteiga e gordura).
Como é que pode a gente vincular felicidade e bem-estar a um corpo magro e sem gorduras? A um manequim de 38 pra menos? Quem estipulou isso, minha gente? Porque isso não sai de moda?
(A mulher do meu lado agora pede um sanduíche light… Socorro! Já comi todo o croissant)
Por que entram modas estranhas como calça saruel e blusa de um ombro só e não entra a gente ser gata vestindo 42?
Eu não tô falando de saúde, porque saúde é uma desculpa pra essa magreza sem explicação, a qual a gente a gente persegue. A pessoa diz que é pela saúde e, sinceramente, eu não acredito não, é pra ficar magra mesmo, penso eu, afinal, a gente tem o hábito horrível de julgar as pessoas por nós mesmas e eu sei que malho muito mais por estética do que por saúde.
Pois bem, eu não tenho solução alguma para este problema, a não ser ir morar num museu daqueles da Itália ou França, ao lado daquelas esculturas tudo de mulher “gordota”, fornida, ou rechonchuda com filhos fofinhos e homens a seus pés. Capaz de, toda noite, elas saírem pelas ruas de Paris e de Roma comendo croissants de chocolate – o que é pior, ou melhor, do que o meu com queijo e coltarem para seus museus felizes. Queria, mas não dá.
Acho que um dos caminhos, pelo menos o que eu estou buscando, é não criticar quem é gorda. Já basta a autocrítica desta virginiana que vos fala. E mais, eu não tenho nada a ver com o que a criatura come, veste, faz nas horas vagas. Se ela come biscoito São Luiz (esse é do tempo que eu comia “sem culpa”, apesar de que, era na infância que eu era gordinha e não gostava muito não). Não me interessa se ela se afoga na panela de brigadeiro, ou num pode de Nutella. A questão é dela.
O que deve me interessar é em quem ela votou (ops! sorry), é o que ela pensa sobre Meritocracia, sobre as cotas e se ela consegue fazer o link entre escravidão-favela-bandido. Isso é que deve pautar meus julgamentos e relações, não se a pessoa engordou dez quilos em 2018.
A outra dica é se empoderar por dentro. Sabe quando você já tirou a roupa inteira e está ali do lado do seu bem? Cara, banca a gostosa, finge que mulher melhor não há para aquele cenário, porque não há mesmo. Muito provavelmente o cara (ou a cara metade) já sacou isso há séculos e só você que não. Vai fingindo que se aceita, vai fingindo que se ama e, quando você der por si, já vai estar mais simpática àquela imagem no espelho.
Testa e me diz.
E, amanhã me encontra na academia pra queimar esse croissant dos infernos que eu comi. Até porque, quem não tem ao menos uns dois quilos pra perder na vida como meta, não tem objetivo de vida, né?
E depois me encontra pra uma cerveja porque eu sei oscilar entre a “nóia” e a razão seja lá de que lado cada uma delas está.
Bj grande
Bom apetite, me disse a garçonete.
Estava ótimo!
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Oi Lu! Caracas, como seus textos são bons! Esses tipos de julgamentos existem por todos os lados, né? Fico feliz que ultimamente se esteja começando a falar sobre imagem corporal positiva, mas isso ainda tá engatinhando muito. Entretanto, são palavras como essas suas que ajudam a coisa a dar mais um passo. É um assunto necessário e, para tal, precisamos falar sobre ele mais abertamente, não é?
Come sem culpa, vive o momento, vive o croissant da vez sem medo. Tento seguir essa filosofia ao mesmo tempo em que estou tentando me alimentar com melhor qualidade e saber balancear os momentos de comer as guloseimas deliciosas e os momentos de investir num peixe com legumes.
Sigamos em frente desabafando e nos ajudando. Por mais croissants! E por mais momentos de paz com nossos corpos!
Beijos!
Oi meu querido! Que bom te ter aqui.
Sim, se alimentar saudavelmente é maravilhoso, eu adoro. E sim, precisamos demais saber nos jogar sem culpa em croissants e afins.
Beijos doces 🙂