Yemenajá, rainha do mês de fevereiro e do mar

Eu escrevo esta crônica do agora. Deste tempo crônico e dessa angústia crônica que, agora, me assola.

Não sei se na quarta-feira 27, serei eu a postar aqui, ou somente a máquina replicando o que deixei agendado. Como é estranho agendar coisas contando que vamos durar até elas. Veja o Boechat, por exemplo, devia estar com a agenda lotada naquele dia e nos próximos. Deixou de cumprir todos os compromissos, inclusive, e principalmente, àqueles que não envolviam horários, mas presença, como levar as filhas ao médico, acompanhar as aulas de Ballet, ou conhecer o primeiro namorado, a valsa dos 15 anos, os netos… A gente vai agendando num bloco de notas que imaginamos ser nosso, mas que só depende do acaso.

Escrevo do agora, porque não sei se sobreviverei a Fevereiro de 2019. Inventei um evento de Literatura, o lançamento do meu livro e culminei com uma cirurgia do joelho. Tudo no mesmo mês. Posso até chamar de Fevereiros, igual ao filme da Bethânia que tentei ver neste mês, mas não deu. Tudo encerrando no dia 26. Conto como se fosse durar lá e eu espero que ainda supere, e muito, esta data. Tenho tanto o medo das pessoas não irem ao evento, quanto o medo de as pessoas irem, bem como, espero que eu supere o medo da anestesia e a anestesia em si. Depois, que eu não tenha nenhum trombo. Se eu passar por isso tudo, estarei vivinha da Silva, esperando, bem serelepe, os próximos acasos que vão me tirar do lugar, me jogar contra a parede, me deixar angustiada e, se tudo der certo, também passarão e me deixarão mais forte.

Eu sempre chego na academia com pressa de ir embora. Malho tudo rápido como se tivesse muitos compromissos depois. Nem os tenho. Às vezes sim, a maioria das vezes, não. Meu tempo é flexível e bem livre, o que me enche de culpa, já que o capitalismo culpa quem não produz de 8h às 12h e de 14h às 18h. Então, eu faço tudo bem rápido pra ir embora logo, fazer sei lá o que que minha cabeça condicionou que tem de ser feito. Sabe àquela coisa de aproveitar o momento? Você sabe? Pois eu não sei.

Só sei que hoje – o que, neste momento que você me lê, foi na semana passada, que marca a hora do agora em que escrevo – só sei que hoje, depois da aula de dança que tem na minha academia, a qual não faço porque estou malhando, hoje, depois da aula, umas mulheres se sentaram calmamente no chão pra jogar conversa fora. Todas com mais de 60 ou perto disso. Idade na qual a gente tende a ir dando uma desacelerada, não por falta de disposição, mas por saber que jogar conversa fora é dos maiores ganhos de tempo que existem. Idade na qual a gente deve começar a perceber que correr nos faz perder um tempão, já que o estresse adoece, e, àqueles cinco minutos que se ganha ao apressar o passo, se perde em dias e dias com o trabalho de curar depressões, gripes, dores de cabeça e essas coisinhas que se aproveitam da gente quando a imunidade baixa.

Queria ter 60 aos 37, seria ótimo, mas ainda estou em fase de aprendizado. Ainda estou tentando, já com algum êxito, entender que aproveitar a vida é muito mais brincar com o Nelsinho por horas fingindo que sou Bat Girl do que saber se tive 10 ou 20 curtidas a mais na minha postagem. É muito mais passar duas horas de papo com meus pais, do que ir pra uma balada tentar encontrar alguém que me enderece a vida, com quem eu possa vir, quem sabe, a me casar e ter filhos.

Enquanto escrevo, papai puxa uma música de Wando e nós estamos com meu spotfy só no bom do brega. Eu, ele e mamãe, em plena 22h, cantando por aqui, enquanto que, entre uma conversa e outra, cada um cuida de seus afazeres.

Tenho aprendido que aproveitar a vida é algo que envolve muito mais o lento do que o ansioso. Muito mais lacunas na agenda do que bloco de notas entupido e isso envolve, por exemplo, deixar de ir fazer as unhas para ter mais tempo de cochilo no meio da tarde, ou uma hora a mais sendo o Capitão América, enquanto Nelsinho é o Darth Weider. Sim, brincar com o Nelsinho é dos meus melhores investimentos de tempo e de vida.

Às vezes eu tenho medo de morrer sem deixar legado, sem deixar algo de concreto, sem ter cumprido a minha missão. Missão esta que ainda não me veio tão claramente, não sei exatamente a que vim, mas sinto um cheiro e tento seguir esse rumo.

Daqui do agora, prestes a uma cirurgia que me assusta – morro de medo de anestesia, Clara Nunes morreu de anestesia e eu lamento demais essa perda – eu tomara que esteja vivinha pra lhes contar do meu momento cirúrgico. Não que isso interesse a ninguém, mas essa sensação de quase morte costuma render bons textos.

Agora, de lascar, é você marcar uma cirurgia dessas nas vésperas do carnaval. Percado mortal, sem dúvida. Mas se tudo correr bem, vou negociar com o médico uma celebração à vida. Que, pelo menos, na segunda de carnaval eu esteja liberada para ir pro bloquinho, nem que seja pra ficar sentada.

A la la ô, ô ô ô, ô ô ô!

Até quarta!

Ps.: Lancei o livro do Paris Só de Ida e, se você quiser o seu exemplar, fala comido pelo direct do @parissodeida ou por mensagem no Facebook do Paris Só de Ida – aqui –  que eu faço  o livro chegar até você :).

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