Eu não tô podendo não, eu.
Não deixaram mais não, eu.
Me disseram pra eu dar um tempo, eu.
Me pediram pra parar, eu.
Tentaram me calar, eu.
Estão me intimidando, eles.
Quem sabe?, falar só de amor, eu.
Dar receitas de bolo, minhas (sou péssima na cozinha).
Botar letra de música no meio da notícia, do Chico.
Eu fiquei com medo, eu.
Eu pensei em ir embora, eu.
Eu posso estar parecendo uma louca, disse a psicóloga.
Mas tá tudo na coerência, a minha.
Não sei como falar, eu.
Muito menos como calar, a boca.
Não sei como cessar, a tristeza.
E como despistar, o medo.
Não conheço a etiqueta, eu.
Que se usa na censura, deles.
Chocolate ao leite com amêndoas, o bolo.
Acorda, amor, a música.
Espero que você me entenda, eu.
Eu podia ser a Zuzu, eu.
Eu posso ser a Zuzu qualquer dia, eu.
E você, que me lê, será meu Chico Buarque, tu.
É só dar um google, ta lá.
Não posso postar, eu.
Vão tirar do ar, eles.
Calei-me, eu.